quarta-feira, outubro 19, 2005


A estátua

De repente, o sol encharca-se de chuva. Atravesso, então, a rua e abrigo-me debaixo de uma árvore. É quando o avisto. Está sentado num banco de tábuas gastas pelo atropelo dos anos. Indiferente ao vento que sopra gotas de água contra si, olha fixamente a estátua à sua frente. É uma figura flagelada pelo musgo do tempo, por dejectos dos pássaros e mutilada pela erosão do cenário que lhe foi destinado.
Mas o peso da chuva descobre-lhe a nudez. Chuva que pára. O sol reaparece e avança sobre os seus seios, como se aprendesse o caminho. Mergulha sobre o seu ventre e deixa-se escorrer pelas curvas das suas coxas e nádegas. Noto que toda a luz do dia disputa o seu rosto e interrogo-me: "Em que deusa o teu criador se inspirou?

Nisto reparo no banco vazio e uma voz interpela-me: - Cativa, não cativa? Imagine, agora, o modelo. Como esquecê-la? As pedras também morrem, não morrem?



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